5Enjôos. 6Festa.Depois do minuete foi desaparecendo a cerimônia, e a brincadeira aferventou,como se dizianaquele tempo. Chegaram uns rapazes de viola e machete: o Leonardo, instado pelas senhoras,decidiu-se a romper a parte lírica do divertimento. Sentou-se num tamborete, em um lugarisolado da sala, e tomou uma viola. Fazia um belo efeito cômico vê-lo em trajes do ofício, decasaca, calção e espadim, acompanhando com um monótono zunzum nas cordas do instrumentoo garganteado de uma modinha pátria. Foi nas saudades da terra natal que ele achou inspiraçãopara o seu canto, e isto era natural a um bom português, que o era ele. A modinha era assim:Quando estava em minha terra,Acompanhado ou sozinho,Cantava de noite e de diaAo pé dum copo de vinho!Foi executada com atenção e aplaudida com entusiasmo; somente quem não pareceu dar-lhetodo o apreço foi o pequeno, que obsequiou o pai como obsequiara ao padrinho, marcando-lhe ocompasso a guinchos e esperneios. À Maria avermelharam-se os olhos, e suspirou.O canto do Leonardo foi o derradeiro toque de rebate para esquentar-se a brincadeira, foi oadeus às cerimônias. Tudo daí em diante foi burburinho, que depressa passou à gritaria, e aindamais depressa à algazarra, e não foi ainda mais adiante porque de vez em quando viam-se passaratravés das rótulas da porta e janelas umas certas figuras que denunciavam que o Vidigal7andava perto.(Memórias de um sargento de milícias.Rio de Janeiro, INL, 1944. p. 7-11.)7O major Vidigal, que existiu realmente, era o temido chefe da policia carioca do começodo século XIX.