petisco que chegava tão fofo e formoso. A Sandra é que nãogostou nada das novas caras. Embatucou ciumenta vendo quejá não lhe davam atenção: «Preferem divertir-se a gargalharcom aquelas peneirentas! Se soubessem quem elas são... Eagora põem-se a jogar as cartas! Até lhe lamberam a cara,àquelas porcas. Um beijinho, para mim, um beijinho para ti!E o Rocha mais o Louro no meio delas também, a sorrir comose nunca tivessem visto mulheres. Os homens são todos iguais.Mas tem-te, não caias. Eles hão-de fartar-se das pandorcas.Vou ligar a televisão e metade deles foge já para aqui».Assim o pensou, assim aconteceu. Porém, não tantocomo desejara. É verdade que cinco dos campistas se afastaramda mesa das cartas e se acocoraram ao balcão de olhar fito naTV. Porém, levaram com eles a Anabela. O regabofe foi maiore os ciúmes da pobre Sandra aumentaram. Tinha de enfrentar,rija, aquela basbaque, centro das atenções dos que tinha emexclusivo por amigos seus.Na mesa ao centro, jogavam à sueca animados o Rubro,o Rocha, a Catarina e a Simone. Entre a batida das cartas e ointervalo dos jogos ganhos sempre pelo par Rubro / Simone,comentava-se o dia anterior e o que fariam nas jornadaspróximas.– Amanhã à noite, quando voltarem da praia, podiampassar na minha casa. É dia de cozer o pão, ofereço-vos umabroa – disse a Simone deitando ás de paus na mesa que seriacortado pela Catarina com um terno de trunfo.– Fala-se com os outros. Amanhã estaremos só cinco. OToninho e o Barbosa vão-se embora. Assim caberemos todosno carro e podemos aparecer na tua casa – considerou o Rubro,
90que acabava de comer a bisca de ouros ao Rocha.Os ponteiros do relógio do Toninho marcavam dezoitohoras e dez quando as miúdas, despedindo-se sob o olharrancoroso da Sandra à porta do café, partiram na Renaultescoltadas pelo Rocha e pelo Cordeiro.A Sandra respirou fundo e a cor jovial e engraçada voltouàs suas faces morenas. Não lhe convinha nada perder a amizadedaqueles rapazes. Sabia-se lá, podia acontecer alguma coisabonita. O Rocha e o Louro não lhe tiravam os olhos de cima.É porque estavam interessados. À noite haveria novamentefutebol, segundo combinaram com o Miguel. Uma boa alturapara docemente atacar. O Rocha ou o Louro? O que estivessemais a jeito.XXVIEnquanto o Rocha levava com o Cordeiro as visitantesa Rio Caldo, os que ficaram meteram-se caminho abaixo emdirecção ao Boco. Convinha jantar cedo, pois o jogo de futeboltinha sido marcado para as vinte e uma e trinta. E os da terraqueriam ganhar, para desforra da derrota anterior. Nãopoderiam admitir que a melhor equipa da zona fosseenxovalhada por meia dúzia de idiotas da cidade.Os jogadores entraram no campo já a noite tinha invadidoa montanha. Do céu caía uma chuva forte, refrescante paraaqueles dias de calor abrasador e áspero. Não era motivo queos fizesse desistir do encontro, perder a coragem de seenfrentarem. Outras razões teriam influenciado essa atitude.Desde a bola que não havia até ao campo que não estavailuminado por entretanto ter falhado a energia. Mas tudo sesuperou e a partida desenrolou-se bem.