Ele disse, enfim, quando a srta. Gilchrist havia cansado de tagarelar:
– Imagino que a sra. Lansquenet não levasse tudo isso muito a sério.
– Oh, não, sr. Entwhistle, ela compreendia a situação.
O sr. Entwhistle achou essa observação perturbadora também, embora não no sentido
que a srta. Gilchrist pretendera. Cora havia compreendido? Não então, talvez, mas depois.
Ela havia compreendido bem demais?
O sr. Entwhistle sabia que Richard Abernethie não era de forma alguma senil. Richard
tinha domínio absoluto de suas faculdades. Ele não era um homem com manias de persegui-
ção, de jeito nenhum. Ele era, como sempre fora, um homem de negócios dedicado – e sua
doença não fazia diferença nesse sentido.
Parecia extraordinário que ele tivesse falado à irmã naqueles termos. Mas, talvez, Cora,
com sua estranha sagacidade infantil, houvesse lido nas entrelinhas e preenchido as lacunas
naquilo que Richard Abernethie realmente dissera.
“Sob a maioria dos aspectos”, pensou o sr. Entwhistle, “Cora havia sido uma completa
idiota. Ela não tinha capacidade de julgamento ou equilíbrio, e possuía um ponto de vista pu-
eril, mas também tinha a habilidade incomum das crianças de às vezes acertar em cheio de
uma maneira que parecia bastante extraordinária.”
O sr. Entwhistle encerrou o assunto. “A srta. Gilchrist”, ele pensou, “não sabia mais do
que lhe havia contado.” Ele perguntou a ela se Cora Lansquenet deixara um testamento. A
srta. Gilchrist respondeu de imediato que o testamento da sra. Lansquenet estava no banco.
Com isso, e após tomar outras providências, o sr. Entwhistle despediu-se. Ele insistiu
para que a srta. Gilchrist aceitasse uma pequena soma em dinheiro para custear as despesas
presentes e disse-lhe que entraria em contato outra vez, e que, nesse ínterim, ficaria grato se
ela permanecesse no chalé enquanto estivesse procurando por um novo emprego. Isso seria,
disse a srta. Gilchrist, muito conveniente, e na verdade ela não estava nem um pouco nervo-
sa.
Ele não conseguiu escapar sem que a srta. Gilchrist lhe mostrasse o chalé e o apresen-
tasse a vários quadros pintados pelo falecido Pierre Lansquenet, que estavam amontoados
na pequena sala de jantar e que fizeram o sr. Entwhistle recuar: eram, na maior parte, nus,
executados com uma singular falta de perícia, mas com grande fidelidade aos detalhes. Ele
também foi obrigado a admirar vários pequenos esboços a óleo, de portos pesqueiros, feitos
pela própria Cora.
– Polperro – disse a srta. Gilchrist, com orgulho. – Estivemos lá no ano passado, e a sra.
Lansquenet ficou encantada com o caráter pitoresco do lugar.

O sr. Entwhistle, ao ver Polperro de sudoeste, de noroeste, e presumivelmente de vários
outros pontos cardeais e colaterais, concordou que a sra. Lansquenet com certeza fora uma
entusiasta.
