como as pegadas: um dia alguém andou por ali, mas já não está
presente; apenas as pegadas deixadas na areia, na areia do tempo.
Um Buda anda, suas pegadas ficam e você segue adorando essas
pegadas durante séculos. Já não há ninguém ali, apenas uma forma
na areia e nada mais.
As seitas são formas na mente, exatamente como as pegadas. Sim,
alguém esteve ali um dia, mas já não está mais. E você continua
adorando
essas
formas.
Você
nasce
nessas
formas,
está
condicionado a elas, doutrinado. Você se tornou um sectário.
E não pense que você se tornou religioso, pois irá se perder. Para a
religião existir ali, você tem que procurá-la por si. E um
crescimento pessoal, um encontro pessoal com a realidade — face a
face, imediato e direto. Nada tem a ver com tradição ou com seu
passado. Você tem que crescer para dentro dela, tem que permiti-la
crescer dentro de você.
A religião é uma revolução, não uma conformidade. Não é uma
convicção que foi alcançada intelectualmente, mas uma conversão
de todo o seu ser. Como se pode nascer numa religião?

Naturalmente, você pode nascer numa ideologia, pode aprender
uma teologia, palavras e teorias a respeito de Deus, dogmas e
doutrinas, mas saber a respeito de Deus não é conhecer Deus. A
palavra "Deus" não é Deus. E todas as teologias juntas nada são,
comparadas com um só instante de encontro com o Divino —
porque então, pela primeira vez, a faísca, sua luz interna, acende.
Você começa a subir numa dimensão diferente.
A religião é uma busca pessoal, e não é parte da sociedade.
Nasci jainista, e naturalmente eles tentaram me forçar a ser jainista.
e felizmente fracassaram. Esse é um dos insucessos bem sucedidos
em muitos casos. Fracassaram e ficaram muito zangados comigo.
Por isso, se você perguntar aos jainistas, muito raramente
encontrará um que diga que eu sou jainista; ao contrário, dirão que
sou inimigo do jainismo, que estou destruindo sua ideologia e
corrompendo suas fontes. E ambos estão corretos, de certo modo.
Aqueles que dizem que sou contra o jainismo estão corretos, de cer-
to modo — porque sou contra o jainismo como eles o entendem. Eu
sou
contra, pois aquilo não é absolutamente religião, mas um fóssil
morto — naturalmente, um dos mais antigos. O jainismo parece ser
a religião mais antiga do mundo, ainda mais velha que o
hinduísmo, pois, mesmo nos Vedas, no Rig-Veda, os
Teerthankaras
jainistas são mencionados com muita reverência. Isso mostra que os
Teerthankaras
jainistas são mais velhos do que o Rig-Veda, a
primeira escritura hindu, a mais velha do mundo. E quando uma
escritura fala de um Mestre como o primeiro
Teerthankara
dos
jainistas, Rishabh, os Vedas falam com tanta reverência que é quase
certeza de que ele não era contemporâneo. Eleja devia ter morrido
há pelo menos mil anos; só assim pode se falar com tanta
reverência. Sobre os contemporâneos não se fala com tanta
reverência. Os seguidores podem falar, mas os hindus não são
seguidores dos jainistas — são religiões antagônicas. Pelo menos
mil anos deviam ter passado, e o homem devia ter se tornado uma
lenda.

Os jainistas são muito antigos. Agora os historiadores estão traba-

