Sevadilha: Se me disseras isso em dois dedos de papel, ainda te crera.
Semicúpio: Não só em dois dedos, mas em toda a mão do solfá, donde verás de teu Semicúpio as finas cláusulas de suas
semicopadas.
Canta Semicúpio, espirrando no fim de cada verso, a seguinte
ÁRIA
Não posso, ó Sevadi...
Dizer-te, o que padê...
Que o meu amor trave...
Chegando-me aos nari...
Num moto contínuo me faz espirrar.
Mas se é tafularia
Este vício de querer-te,
Toda inteira hei de sorver-te,
Por mais que me veja morrer, e estalar. (vai-se).
Sevadilha: Ora, Deus o ajude com tanto espirrar.
(Entram Dom Lancerote e Dom Tibúrcio)
Dom Lancerote: Basta, sobrinho, que não fostes vós, o que me derreastes?
Dom Tibúrcio: Pois acha vossa mercê, que havia por as mãos violentas nas reverendas barbas de vossa mercê? Igual eu
me podia com mais razão queixar de vossa mercê, que me fez em estilhas.
Dom Lancerote: Eu, sobrinho? Isso é engano; eu havia erguer a mão para vós, quando só as devo levantar ao Céu, para
dar-lhe graças, por dar-me para uma de minhas sobrinhas um noivo tão gentil-homem?
Dom Tibúrcio: Não vai a dar quebranto.
Sevadilha: (à parte). E ele, que é mui belo.
Dom Tibúrcio: Pois se nenhum de nós reciprocamente deu um no outro, quem seria?
Dom Lancerote: Eu também não posso atinar; o que sei é que a caixa para nós foi de guerra.
Sevadilha: (à parte). E para o noivo, de tartaruga do Alentejo.
Dom Lancerote: Sevadilha, anda cá, não o negues: quem andará nesta casa; há um par de noites que sinto grande
rebuliço?
Sevadilha: Senhor, eu tenho par Amim que esta casa às escuras é assombrada.
Dom Lancerote: Tens visto alguma coisa?
Sevadilha: Ai, senhor, tenho visto tantas coisas, que não me atrevo a dize-las.
