encontrado a Guidinha na rua, ficou a saber que a sua
apaixonada casaria em breve por ter engravidado de um colega
de escola.
Poucos dias depois de o Rocha se ter despedido do reitor,
o Toninho fazia o mesmo. O reitor ainda quis saber a razão,
mas ele limitou-se a encolher os ombros e a pedir licença para
se retirar. Entrou para uma universidade longe de Braga,
ficando cada vez mais longe da Florbela, a rapariga de cabelo
dourado que conhecera na visita pascal. Embora se mantivesse
inalterável o desejo de a rever e de a abraçar, nunca mais voltou
a abrigar-se no seu guarda-chuva.

74
PARTE III
XX
– Temos de estar em São Bento às onze horas – berrou o
Rubro para os que se espreguiçavam na manhã ensolarada. –
Cordeiro, fora da tenda!
– Só mais um bocadinho... – pediu ele bocejando
embrulhado num cobertor.
Mas lá se levantou. Ingerido o pequeno-almoço e a cara
lavada, abandonaram o Boco subindo ao Mira-Rio. Atrás ficou
o Rocha e o Toninho que foram à casa paroquial buscar vinte
garrafas de verde oferecidas pelo padre da Caniçada. Levaram-
nas ao Boco de carro, deixaram duas na mala e juntaram-se
aos outros no café.
– Vão quatro agora e depois vens apanhar os restantes
mais as sardinhas – explicou o Rubro ao Rocha.
– Certo. Entrem. E não me batam com as portas! – pediu
metendo a chave na ignição.
– Sandra, não queres vir? – perguntou o Louro à miúda
estacada na porta do café enquanto se enfiava entre os acentos
traseiros.
– Não posso. Tenho que trabalhar. Mas gostaria muito.
– Enquanto o Rocha não volta para nos apanhar,
fazemos-lhe companhia, Louro. Não te preocupes – gracejou
o Barbosa que ficava com o Rubro, o Lula e as sardinhas.
Sardinhas vindas da Póvoa nessa mesma manhã por intermédio
do pai do Miguel.

75
A esplanada envolvente da ermida de São Bento, airosa
de verde e de sol, burburinhava às dez da manhã. Era o período
das festas em honra do santo e todos os dias arrimavam turistas
curiosos e peregrinos devotos, uns ávidos de vista e frescura,
outros do chorudo milagre que os livrasse dos bicos de
papagaio.
Os nossos amigos, porém, nem foram à cata de milagres
(se o fizessem seria para curarem o coração) e muito menos
de frescura, que essa tinham-na no Boco em abundância.
Marcaram uma missa às onze na igreja convidando o padre
Mário, antigo director espiritual do Seminário e grande amigo,
a presidir. Ia de Braga para os visitar.
Mas eram já onze e meia e o padre Mário não chegava.
O padre Matos, reitor da ermida, na sacristia com o Rubro e o
padre Emílio (outro convidado para a sardinhada)
impacientava-se bufando de mãos atrás das costas.
– Deve ter-lhe acontecido alguma coisa – arriscou o
padre Emílio.
– Esperemos que não – acrescentou o Rubro. – As
estradas até cá não são as melhores e o padre Mário gosta de
carregar no acelerador. Disse-me que sairia de Braga às dez
indo apanhar o Carlitos.


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- Spring '14
- GBALERIA
- Luz, Seminário, Braga, Loucura